segunda-feira, 28 de março de 2011

Como sobreviver girando térmicas na "muvuca"

Retirado do site:

http://www.rotadovoo.com.br/literatura/muvuca.html

Como sobreviver girando térmicas na "muvuca"
Por Joe Greblo

Tradução Rafael de Góes

Este artigo refere-se a um sítio de vôo em particular, mas é muito fácil encontrar similaridades com o seu local preferido. Nota do Tradutor

Kagel Mountain, mundialmente conhecida por sua consistente condição térmica , é igualmente famosa pelo seu espaço aéreo congestionado. Muitos que voam por lá irão concordar que em condições deste tipo é muito difícil relaxar e desfrutar um vôo por medo de um eminente encontro com outro glider (paraglider ou asa-delta). Reclamações acaloradas sobre violações do direito de passagem são tópicos comuns em discussões pós-vôo. Este artigo não vai discutir técnicas básicas de girar térmicas, ou regras simples de direito de passagem. Muito já foi escrito sobre estes tópicos. Em vez disso, gostaria de concentrar em problemas específicos presentes em Kagel Mountain em tardes congestionadas.

O principal problema não é necessariamente a grande quantidade de gliders no ar, mas a diferença de estilos de vôo, técnicas de giro de térmicas e procedimentos de direito de passagem de muitos pilotos. É essa falta de uniformidade de estilos de vôo de nossos pilotos locais que faz com que o lugar pareça mais congestionado do que ele realmente é. Considere por um momento como é que 200 pessoas podem patinar em segurança em um rinque de patinação congestionado se todos adotarem padrões básicos de velocidade e direção. Mas remova 100 destes patinadores e mande os outros 100 patinar a qualquer velocidade e direção que queiram, e a anarquia que se sucede resultaria num caos absoluto!


Este artigo tem o intuito de ajudá-lo a compreender os conflitos aéreos e suas causas. Como você poderá ver, algumas destas causas não são de fato óbvias. Através da análise a priori destas situações, você pode preparar-se para evitar a maioria dos conflitos aéreos e talvez até uma colisão.

Tenha em mente as seguintes idéias enquanto estiver lendo este artigo. Primeiro, Kagel Mountain é primeiramente um sítio termal. As panelas são "liftáveis"durante rajadas térmicas e em certas ocasiões toda a encosta é "liftável". Em segundo lugar, quando voando em situações congestionadas, o estilo de vôo pessoal deve ser sacrificado até certo ponto para acomodar o pelotão como um todo.

A direção de rodar a térmica:

A regra simples, "GIRAR NA MESMA DIREÇÃO", é quebrada com mais freqüência que qualquer outra. Infelizmente essa regra não é tão simples quanto parece.

Existem quatro razões básicas para que pilotos encontrem-se na mesma térmica, mas girando em direções opostas.

1. Não visualizar ou pensar a frente o suficiente. Voar na multidão requer uma grande quantidade de decisões imediatas em vôo. É imperativo saber quais glider estão próximos à sua rota e em que direção eles estão girando. Se girar térmicas ou voar em turbulência é tão custoso que requer aproximadamente concentração total, então é melhor evitar girar térmicas próximo a outros pilotos. Treine girar térmicas em uma área livre de tráfego até que sua habilidade e confiança forneçam uma grande quantidade de margem de concentração para planejar adiante.


2. A separação alto-baixo. Como num jogo de cartas os perdedores são aqueles que estão no meio. Imagine-se já merrecando e "baixo"quando é apanhado por um ciclo descendente. Você busca a encosta sempre que a altitude permite, mas é eventualmente forçado a tirar para o pouso. Exatamente a frente e 200 metros acima , você percebe um piloto girando para a esquerda e subindo constante. Ele está de tal modo alto que você não está certo de quando e onde vai entrar na parte mais baixa de sua térmica. Quando você encontra sustentação, o seu lado direito sobe, então você vira para a direita, lado contrário ao do piloto acima. Além disso, você está muito baixo para virar à esquerda e afundar na descendente antes de reentrar na termal.

Claro, o outro piloto pode não dar bola pois não há conflito imediato. Mas pense um pouco adiante; é um dia congestionado e este ciclo descendente forçará todos os outros pilotos nas imediações a apontar para a sua termal assim que o vejam subindo. Você pode até pintar "olhos-de-touro" no seu capacete. A situação engrossa (literalmente) assim que pilotos, vindo de baixo, seguem-no e giram para a direita e pilotos próximos ao glider superior o sentido de giro dele e giram para a esquerda. Pobres coitados do aqueles que estão no meio. Todos estão ocupados gritando uns aos outros para girar no sentido contrário. E uma vez que você estava bem abaixo deste desastre, você se manda sem culpa. No fundo você nem soube que quase que criou a situação. Neste caso, o de entrar na termal a baixa altitude, você podia ter feito correto em girar para o lado contrário, APENAS SE você pudesse inverter o seu giro para coincidir com o sentido do piloto acima BEM ANTES que qualquer outro piloto tenha chego à cena.



3. Termais com múltiplos núcleos freqüentemente fazem com que pilotos se encontrem girando no sentido errado. Vamos examinar um exemplo: é um domingo congestionado e você enroscou numa boa em frente à decolagem. Sua taxa de subida é de 0,5 a 1,5 m/s. Você está girando para a esquerda, tentando centrar o giro mais estreito e ter uma leitura estável no seu vário. A centenas de metros metros em frente à encosta você percebe um outro piloto girando para a direita, subindo aproximadamente na mesma taxa, parece que há uma enorme distância entre os dois gliders, então você continua a trabalhar a térmica. Dentro de minutos, entretanto, a ponta do equipamento alheio passa perto de você. UAU!!! UM AVISO PRÓXIMO ! Como isso acabou tão perto ? Uma térmica com mais de um núcleo é frequentemente interpretada como duas ou mais térmicas distintas e separadas. Uma vez que estes núcleos são todos parte da mesma massa de ar instável, eles com freqüência comportam-se de modo diferente que uma térmica como um todo. Os núcleos algumas vezes parecem vagar imprevisivelmente dentro da massa térmica, geralmente unindo-se com outros núcleos. Dois pilotos girando em núcleos separados dentro de uma térmica poder perceber que seus núcleos estão juntando-se para formar um. Quando estiver voando com outro piloto em algo que possa ser uma termal de múltiplos núcleos, é sempre melhor girar círculos grandes que passe entre os diferentes núcleos. Se o seu companheiro insiste em trabalhar seu próprio núcleo, considere compartilhá-lo se for grande o suficiente. Se não, procure em outro lugar por um ambiente mais previsível e seguro.

4. Termais que se unem. Essa é uma das que eu julgo, mesmo depois de ver acontecer com outros em Kagel Mountai, ser mais freqüente neste sítio. Eu me aventurei pela Trash Mountain nas proximidades em uma asa pano simples apenas para cair na descendente. Havia um fraco vento sul e eu estava preocupado em chegar ao pouso. Em vez de atirar pra lá, eu decidi voltar novamente em direção à encosta da Kagel em um último esforço para subir. Minha lógica é que eu poderia voar de través até o vulcão e quiçá achar algo. Caso contrário iria continuar até a base da represa e pousar no maldito pouso alternativo.

Achei um zero sobre o plano e comecei a girar para a esquerda. Não havia ninguém acima de mim. A asa mais próxima estava acima contra a crista da Kagel, a aproximadamente 400metros a sotavento de mim. Devido a sua distância eu prestei pouca atenção para o sentido em que ele estava girando. Eu estava derivando rápido e subindo pouco. Eu não queria perder a termal a esta altura pois eu estava definitivamente muito baixo e longe para pousar na área de pouso usual. Ao me aproximar da parede da crista da Kagel, minha taxa de subida aumentou dramaticamente e minha deriva diminuiu. Neste momento eu não imaginei que estava quase diretamente abaixo da outra asa que mais cedo estava a certa distância. Estávamos separados por uma distância vertical de algumas centenas de metros, e embora eu não soubesse naquele momento, ele estava girando na direção contrária. O problema tornou-se aparente quando um terceiro piloto tentou entrar na termal em uma altitude intermediária entre nós. Frustrado por não saber em que sentido girar, ele saiu em busca de outra termal. Mais tarde, no pouso, ele foi rápido em me lembrar do incidente.

Como eu acabei diretamente abaixo de um glider que momentos antes estava em outra termal a algumas centenas de metros adiante ? Termais sobre terrenos planos derivam muito mais rápido do que termais contra um declive de montanha. O piloto que entrou na termal perto da encosta derivou devagar. Eu entrei na termal sobre terreno plano e derivei rápido. Em pouco tempo eu estava sob ele. Nossas termais separadas juntaram-se numa só. Se eu tivesse imaginado isso enquanto estava acontecendo, eu poderia ter invertido o meu giro bem antes em antecipação da minha aproximação ao outro piloto. Do mesmo modo, se o outro piloto tivesse prestado mais atenção, ele poderia facilmente revertido a direção antes da chegada do piloto número 3.

Liftar Termais em encostas.

Quantos de nós tem tentado girar até a crista da Kagel Mountain em um dia instável e passa por um piloto no "lift" ? Esse é o cara que faz "oito" sobre uma panela preenchida por uma térmica pois acha que está experimentando lift orográfico. Então, quando a rajada da termal se esvai, ele aponta para a próxima panela e, se tiver sorte por lá., vai encontrar outros pilotos para caçar suas termais.

Lift orográfico é uma coisa e térmica é outra e os dois não deveriam se encontrar nunca. O que eu quero dizer é, usar técnicas de lift em um local térmico enquanto outros pilotos estão girando térmicas é tão compatível quanto dançar lenta em um concurso de rumba. Se você está sozinho na encosta, faça lift do fundo do coração, mas se vir outros pilotos em seu caminho, é necessário usar técnicas de térmica. Se estiver muito baixo para completar um 360 em segurança, então voe para fora da encosta a busca de outra termal. 


Passar por ou entrar em uma termal já ocupada de modo inapropriada.

Regras gerais de direito de passagem estão disponíveis em vários livros, especialmente aqueles escritos por Dennis Pagen. Entretanto, o mundo real do vôo livre nem sempre segue as situações idéias de um livro. É claro que você vai desviar a direita se estiver a ponto de cruzar na rota de outra aeronave. E certamente o piloto mais abaixo tem o direito de passagem. Mas como um piloto passa por outro em uma termal ou junta-se a ele sem assustá-lo ?

Não é suficiente simplesmente voar tomando cuidado para não acertá-lo. Há mais do que isso. Você deve passar por ele da maneira menos intimidante possível. Você precisa dar-lhe confiança de que sabe o que está fazendo e de que não vai voar ao seu encontro. Você pode fazer isso estipulando uma rota que está bem fora do círculo projetado de vôo do outro piloto. Em outras palavras, voe ao redor da térmica dele, não através dela. Isso permite a ele concentrar-se menos em você e mais em sua própria tarefa de voar.

Mas e se você entrar em uma térmica já ocupada por outro piloto ?

Regra #1 Ele tem o direito de passagem

Regra #2 Ele tem a prioridade sobre o espaço aéreo dentro de sua trajetória circular projetada e em altitude próxima.

Regra #3 É sua tarefa entrar na térmica dele de maneira segura e cordial

Quando em altitudes similares, aprenda a entrar na termal aproximadamente do lado oposto de seu círculo, Exatamente oposto não é tão seguro pois a visão de cada piloto é bloqueada pelo lado mais baixo da asa (caso de asa delta, no parapente isso não tem importância - Nota do Tradutor). Entrar muito próximo e atrás de outro piloto força-o a olhar bem para trás para ver você. Se você entrar muito próximo à frente do outro piloto, você será forçado a fazer o mesmo. Isto também torna difícil a procura por outros pilotos que também possam estar tentando entrar na termal. A posição perfeita para entrar na termal permite a cada piloto manter contato visual enquanto olha para o bordo de ataque mais baixo. É difícil de manter esta posição em térmicas turbulentas, mas quanto melhor você conseguir fazê-lo, mais confiança você terá quanto compartilhar a termal com outros e mais confiança eles terão quando girarem com você.

Três ou mais asas em uma termal na mesma altitude não é uma situação muito segura nem confortável. A menos que esteja acostumado com esta situação, evite-a como uma praga. Uma vez que é provável que os três pilotos não possam ver uns aos outros o tempo todo, é absolutamente crucial que cada piloto mantenha velocidade e ângulo de inclinação constantes. Mudanças rápidas e imprevisíveis na trajetória de vôo de qualquer um pode significar desastre instantâneo.

Mais frequentemente você vai entrar acima ou abaixo de outro piloto em uma térmica ocupada. Aproveite este curto momento, em pouco tempo uma de três coisas pode acontecer. Ou o outro piloto vai subir à sua altitude, você vai subir à altitude dele, ou, como você previu, outro piloto vai entrar na sua termal. Lembre-se que se alguém está subindo por baixo e está chegando perto, ele tem uma visão restrita do que está em cima e consequentemente tem o direito de passagem. Se você está girando uma térmica acima de alguém, que se aproxima, abra o seu giro e permita que ele suba pelo meio. Você pode sempre entrar novamente na termal depois que ele estiver acima de você. Você pode ferir o seu orgulho por fazer isto, mas é de muito mais classe do que gritar para o outro cara com se fosse culpa dele.

Técnicas incompatíveis de girar térmicas.

Voar em condições congestionadas requer compatibilidade com outros pilotos e técnicas cooperativas de girar térmicas. Tente manter círculos concêntricos mesmo que isso resulte em uma menor taxa de subida. Evite mudanças súbitas de ângulo de inclinação e velocidade que possam causar aumentos momentâneos de sua taxa de subida. Inclinar mais ou menos em bolhas repentinas podem elevá-lo um pouco mais rápido, mas os pilotos na mesma térmica não vão apreciar suas ações imprevisíveis.

Sinais Dúbios.

Estes são talvez os error mais comuns feitos por pilotos em dias congestionados. Embora seu glider não seja equipado com sinais de mudança de direção, ou uma buzina, você tem muitos dispositivos à sua disposição que podem dar sinais claros e precisos de suas intenções. Lembre-se, não é suficiente que você saiba para onde está indo. Outros pilotos também devem ser capazes de prever suas ações para estarem confortáveis em voar com você. Sinais claros de suas ações, geralmente, nada mais são que grande quantidade de contato visual e manobras bem previsíveis e planejadas. Quando possível execute mudanças de direção em momentos de contato visual com o piloto próximo. e evite-os quando estiver sendo obstruído de sua visão. Vire sua cabeça para o outro piloto de modo que ele veja sua face por inteiro e saiba que você está olhando diretamente para ele.

Limpe suas curvas de maneira apropriada.

Girar térmicas em um pelotão é um trabalho de tempo integral e requer 100% de concentração no direito de passagem, na etiqueta e no espaço ao seu redor. Se suas capacidades como piloto requerem toda a sua concentração apenas para ficar no alto, então você não terá o suficiente desta preciosa concentração disponível para evitar uma colisão aérea. Lembre-se, a prioridade número um é segurança, permanecer no ar vem em segundo lugar.

A melhor maneira de evoluir no vôo em locais congestionados é primeiro desenvolver suas capacidades de girar térmicas bem longe da muvuca. Em dias congestionados isto pode significar algum lugar fora, em direção ao pouso ou outras fontes térmicas menos populares como o "vulcão". A escola local (Windsports) oferece instruções básicas de graça assim como aulas de girar térmicas a um preço razoável. Apenas quando você tiver aprendido a ficar no ar sem demandar uma quantidade imensa de concentração você deveria girar térmicas próximo a outro piloto. O sistema de parceria é um bom meio de polir algumas destas técnicas. Faça arranjos com um piloto qualificado que esteja disposto a voar com você na mesma térmica e critique o seu desempenho e conhecimentos de direito de passagem. Desta maneira você estará apto a gastar seu tempo desenvolvendo suas capacidades de maneira segura e eficiente.

Medo de voar acompanhado.
mando bala


Uma vez que sítios como Kagel Mountain atendem pilotos novatos intermediários e avançados, é comum encontrá-los girando térmicas nas próximos um dos outros. Os pilotos novatos e intermediários hesitantes em entrar em áreas congestionadas, frequentemente praticam suas técnicas de girar térmicas longe destas áreas; algo que estou certo de que concordamos ser uma boa idéia. O problema aparece quando estes pilotos encontram a coragem necessária para se aventurar cuidadosamente em espaço aéreo mais populoso.

Intimidados pela muvuca, estes pilotos com frequência simplificam seu caminho em termais congestionadas. Eles ficam fora da concentração, e entram no pacote sempre que der e vão girar térmicas com os outros. Esta é uma prática particularmente perigosa. A única coisa pior que 10 pilotos numa termal é a situação de 9 pilotos numa termal e um saindo e entrando. Não há meio termo aqui. Ou você está na termal com todo mundo ou deve ficar completamente fora, em uma área desocupada. Novamente, a melhor maneira de aprender a girar térmicas com outros é com instrução, a segunda melhor maneira é com o sistema de parceria.

Como você pode ver, girar térmicas em condições congestionadas é muito mais complexo do que sozinho. Para fazê-lo é necessário conhecimento, capacidade, técnica e disposição de cooperar. Pilotos fortes nestas áreas são sem dúvida os mais seguros e fáceis de se voar junto. Pratique estas capacidades e você colherá o respeito dos outros e será bem vindo até nos círculos mais estreitos.

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