domingo, 23 de outubro de 2011

Expedição Alemã à América do Sul


Nos primeiros dias de 1934 embarca para a América do Sul a bordo do Monte Pascoal, da Hamburg Sud, um pequeno grupo que representava a nata do vôo à vela da época. Vieram na bagagem quatro planadores e suas respectivas carretas, um avião rebocador além de pilotos e técnicos.

Globo, edição de 23 de janeiro de 1934.

O destino final da Expedição era Buenos Aires, mas estava programada uma parada no Rio de Janeiro para melhor conhecimento das condições de vôo dos trópicos.
 
O ambiente no Rio de Janeiro em janeiro de 1934 na chegada da Expedição ao porto era singular. A seleção brasileira preparava a participação na Copa do Mundo e o clima era de pré-carnaval.  Embora contassem com apoio do jornal carioca O Globo, a burocracia da aduana, indiferente, não liberava o equipamento apesar dos apelos. Eles já haviam feito reconhecimento pela região a bordo de aviões do Sindicato Condor, estavam aflitos para aproveitar o tempo e seguir adiante até a Argentina. Foi preciso interferência de altas autoridades para que o material ficasse disponível para dar início aos vôos.
 
E a espera valeu a pena. Aos 16 de fevereiro Heini Dittmar, a bordo do planador Condor, chega a 4.350 metros após o desligamento. Só não seguiu mais alto em virtude do frio e da falta de oxigênio. Recorde mundial que perduraria por mais de três anos! No mesmo dia Hanna Reitsch, com o Grunau, ganha 2.200 metros e registra o recorde mundial feminino.
 
O vôo do Dittmar foi feito por dentro de um cumulus-nimbus e acompanhado pelo lado de fora da nuvem por Gustav Wachsmuth pilotando o M-23. A turbulência foi acentuada e por vários momentos o variômetro ficou cravado nos 5 m/s, limite do instrumento.
 
Nos dias seguintes a equipe continuou a realizar vôos nos planadores e medições meteorológicas com o rebocador. Era a primeira vez que analisavam a dinâmica da atmosfera em clima quente e os resultados se mostravam surpreendentes.
 
Decolando do Campo dos Afonsos, onde estavam centralizadas as operações, e voando no limite do planador como sempre, Peter Riedel foi surpreendido em cima do Hipódromo da Gávea pela piora das condições climáticas. Desceu no gramado e foi resgatado pelo ar quando o tempo melhorou no dia seguinte.

São Paulo era uma cidade rica e curiosa pelas novidades. Foram contratados para uma curta temporada, chegaram por terra com as carretas e planadores e em baixo de chuva. Os vôos se sucederam no Campo de Marte com a presença da colônia alemã, do prefeito, imprensa e população. Depois das aventuras de Peter Riedel, que foi parar em Tatuí com o Fafnir, e da Hanna Reitsch, que pousou com o Grunau no Parque Dom Pedro interrompendo um jogo de futebol, eles viraram celebridades.

Na Argentina operaram a partir da Base Aérea de El Palomar, nas imediações de Buenos Aires. Peter Riedel, sempre ele, em uma demonstração para altas patentes militares, notou que as condições de vôo estavam boas para navegar. Boas demais para uma demonstração maçante. Não pousou na pista até o anoitecer e foi dado como desaparecido. Depois avisou por telex que havia descido em uma “hacienda”. Lá como aqui a imprensa acompanha tudo interessada.
No caminho de volta para a Alemanha, na escala de Santos, ficaram no cais do porto com destino à capital paulista o Grunau e Heini Dittmar, planador de competição e o primeiro instrutor com categoria internacional do CPP.
 
Na escala de Salvador cada piloto levou como mascote um urubu. Eles ficaram impressionados com a capacidade do bicho de encontrar térmicas e esperavam que o mesmo acontecesse por lá. Não deu certo. Recusaram-se a voar e acabaram exibidos em zoológicos alemães.

Durante os anos trinta foram organizadas diversas viagens ao exterior: Brasil e Argentina em 34, Estados Unidos, Japão em 35, países escandinavos, Líbia em 39, mas nenhuma produziu os resultados da Expedição Alemã à América do Sul com quebra de recordes mundiais e artigos 


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